Casa em Trancoso relê tradições locais

CASA VOGUE BRASIL

“Quando criança, Gabriel Bittencourt, o Gabu, cresceu em uma das regiões mais paradisíacas do Brasil. Os pais dele se conheceram em Trancoso, Bahia, na década de 1970, e foi lá que ele desfrutou de uma infância extraordinária, tendo como cenário a natureza estonteante do lugar. A menos de 40 km dali, Lara Araújo gozou de privilégio semelhante – nasceu e amadureceu em Arraial d’Ajuda.

A união do casal foi o ponto de partida para a realização de inúmeros sonhos, entre eles, o de erguer, ao lado do Quadrado e da Praia dos Nativos, um lar que sintetizasse a arquitetura da região de Trancoso, como esta residência, que celebra o artesanato local. Tinha origem, assim, a Casa Ingá.

Aproveitando um terreno que fazia parte da propriedade da mãe de Gabu, a dupla deu início ao planejamento de uma construção de linhas simples, telhado de madeira com quatro águas e suspensa do chão, para fugir da umidade.

“Tínhamos a ideia de fazer uma casa que unisse o conforto coma simplicidade local. Buscamos materiais tradicionalmente utilizados nas moradas dos biribandos da década de 80 [apelido dado aos hippies e artistas que redescobriram Trancoso a partir dos anos 1970]. Muita madeira e cimento queimado”, conta Lara.

O projeto foi desenhado por Beatriz Regis Bittencourt, tia de Gabu, e o acompanhamento da obra, dos acabamentos e da decoração ficou a cargo de Cris Nogueira, arquiteta amiga do casal. O resultado é uma residência ampla e arejada, com poucas divisórias e que substitui paredes por painéis móveis, possibilitando o fechamento de cômodos quando necessário.

Boa parte da madeira de lei empregada na obra veio do reaproveitamento de uma antiga caixa d’água. Portas e janelas, provenientes de demolição, foram compradas no interior da Bahia. Os elementos locais estão presentes nos tapetes de fibras naturais, nos cestos e nos móveis das carpintarias de Randolfo, Dati e Ricardo Salem, e fazem contraste com a prataria do século 19 que Lara herdou da família portuguesa.

Apaixonado por plantas, o proprietário fez questão de aproveitar as árvores nativas que já existiam no terreno e o bambuzal plantado por sua mãe há 20 anos, preservando, dessa forma, a casa dos olhares de quem anda pela praia. Os moradores só não escapam da vista dos macacos-prego, que, curiosos, costumam marcar presença em frente à grande janela de vidro do boxe do chuveiro duplo que há no quarto principal.

Enquanto Gabu trabalha no desenvolvimento de projetos imobiliários e paisagísticos, Lara é sócia de diversos empreendimentos na região, do Hotel Fazenda Calá & Divino ao Beach Club Café de La Musique. Nos momentos de folga entre os negócios, ela revela que um dos lugares mais desfrutados pelo casal é o deque de madeira em vários níveis, integrado a uma piscina de borda infinita. “Adoramos ficar deitados nas esteiras e almofadas, vendo o entardecer, o nascer da lua, a natureza exuberante, o mar…” E quem há de repreendê-los.”